Por trás do teu céu


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Era mais de uma hora da manhã quando eu o vi pela última vez, eu estava levemente enebriada pela cerveja com limão e com as palavras que saíam daquela boca. Entre uma piada ou outra ele me tocou. Realmente me tocou, antes mesmo de encostar em mim, ele me tocou e quando segurou a minha mão parecia que meu coração ia sair do peito, eu sabia ali que queria que ele me levasse para casa no final da noite. Ficamos juntos as primeiras horas daquela madrugada, ele entrelaçado no meu abraço e eu querendo que aquilo durasse mais, mas ele foi embora. Escapando pelas minhas mãos, ele foi embora. Na verdade eu não sei se queria que ele ficasse, fiquei olhando ele sair enquanto ele encarava meu rosto e pensei: talvez ele volte pelo mesmo caminho, com um novo casaco ou corte de cabelo.. talvez eu esqueça a noite ou ele me esqueça..talvez por debaixo daquele cabelo vermelho tudo o que resta são dúvidas. Eu devia ter pegado em sua mão e ter contado a ele que é preciso amar a vida, amá-la ainda que o tempo seja um assassino e leve embora os todos nossos sorrisos, mas eu não disse, ele estava indo embora e aquilo parecia ser mais coerente do que falar.. então eu nunca disse.
Quando as coisas não são feitas para darem certo é assim, basta ignorar. Uma mensagem sem resposta, uma falha astral.. um conto sem final.. talvez sumir um do outro era o que queríamos, não responder era mais fácil, então nada fizemos. Só desaparecemos e nos esquecemos*. Eu o encontrei na beirada do mesmo abismo, mas ao invés de pular, eu o joguei.  

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* alguns esquecem, outros fingem bem.